Testemunhas de uma história de amor

artigo09 É magnífico fazer parte da Igreja de Jesus Cristo e acolher, como aconteceu recentemente, palavras tão atuais, fortes e consoladoras, que imediatamente se transformam em vida: "A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos, em suma, onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia" (Misericordiae Vultus, 12). O Papa Francisco proclamou, na Vigília da Festa da Misericórdia, a Bula "Misericordiae Vultus", com a convocação do Ano Santo, um Jubileu extraordinário a ser celebrado em toda a Igreja, a partir da Solenidade da Imaculada Conceição do corrente ano. Quando o mundo pretende delimitar os espaços das pessoas, ou a sociedade exclui grupos que incomodam, quando o egoísmo e o indiferentismo avançam, a Igreja vai contra a correnteza, com a mensagem da misericórdia, edificando monumentos vivos da caridade. O apelo do Papa, que será aprofundado nos próximos meses, transforme-se em vida para todos os homens e mulheres de boa vontade, através do serviço, do anúncio, do diálogo e do testemunho de comunhão dos fiéis. Os seguidores de Jesus foram chamados nas mais diversas circunstâncias da vida. Boa parte das narrativas de vocações apresenta pessoas que desenvolvem suas atividades normais ou envolvidas em seus dramas quotidianos. São pescadores, cobradores de impostos, pessoas envolvidas em suas realidades familiares, mulheres pecadoras, enfermos e muitos marginalizados. Em qualquer circunstância, o abraço da misericórdia de Deus pode alcançar quem quer que seja. E eram multidões que acorriam ao Senhor! De multidões afloram os discípulos, dentre os discípulos ele escolhe doze apóstolos, entre eles um trio de amigos o acompanham mais de perto, João foi certamente confidente mais próximo e o escolhido para estar à frente do grupo foi Simão Pedro. O olhar de Jesus vai ao encontro de cada pessoa, com sua história própria, sem excluir ninguém, mas em todos suscitando a conversão. Mais tarde, depois de todos os fatos que ocorreram com o Senhor, sua Morte e Ressurreição iluminará um outro, Paulo Apóstolo, que assim se expressa em primeira pessoa: "De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois aos Doze. Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. Depois, apareceu a Tiago depois, a todos os apóstolos; por último, apareceu também a mim, que sou como um aborto. Pois eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus (1Cor 15, 3-7). Há uma linha que une pessoas e fatos: a partir de um chamado direto, ou através de uma crise, que pode se chamar doença ou interrogações internas, segue-se uma aproximação do Senhor, a experiência do seguimento, descoberta do próprio lugar, para depois aceitar a missão de testemunhar Jesus Cristo Salvador, sua Morte e Ressurreição (Cf. Lc 24, 35-48). Testemunha é quem viu um fato com os próprios olhos e pode comunicar aos outros. Chamou-se martírio o testemunho dado até à efusão do sangue, como muitos cristãos ao longo da história. É que os fatos que assistiram lhes pareceram tão significativos que valeram mais do que a própria vida! E o Espírito Santo lhes concedeu a graça de permanecer fiéis diante das pressões, da tortura e da morte (Cf. Ap 6, 9). Mesmo quando não nos for pedido o gesto extremo do derramamento do sangue, o conta-gotas do dia a dia deve ser marcado pela disposição para dar razões à esperança que nos conduz (Cf. 1Pd 3,15). Os valores da verdade, da justiça, a sinceridade de vida, lisura nos negócios, paixão pela verdade, fidelidade à palavra dada e outros mais, são a estrada do testemunho, muitas vezes silencioso, outras proclamado em alto e bom som, mas sempre coerentes, por ter visto o Senhor. O espaço para cultivar tais valores é a comunidade cristã, lugar privilegiado da manifestação do Senhor ressuscitado. Quando reunidos no Cenáculo, os discípulos de Jesus receberam os dois viajantes de Emaús, que traziam na boca e no coração a experiência feita, pois "eles o tinham reconhecido ao partir o pão" (Cf. Lc 24, 35). Era o primeiro dia da semana, que nós chamamos domingo. Ouvir as maravilhas de Deus ser fiéis à Eucaristia dominical, compartilhar as experiências feitas, esta foi a vida dos cristãos de lá para cá e assim faremos, enquanto esperamos a vinda do Senhor. Por dádiva da Providência, a Arquidiocese de Belém se prepara para acolher o Brasil e ser a capital eucarística de nosso país, durante o XVII Congresso Eucarístico Nacional, a ser celebrado de 15 a 21 de agosto de 2016, justamente dentro do Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, quando deveremos dizer uns aos outros e ao mundo que nós reconhecemos Jesus "ao partir o pão", na Eucaristia, coração dos corações. Até lá, haveremos de formar a nossa geração de cristãos católicos no ardor missionário, para que ninguém fique de fora, mas todos sejam alcançados, no abraço da misericórdia. Dom Alberto Taveira Corrêa Arcebispo de Belém do Pará Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL Fonte: RCC BRASIL
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